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Da batalha na farmácia ao mundo da tattoo: conheça a história inspiradora de Cigano Aguillera

Nascido numa fazenda de café, em Cruzeiro do Oeste (PR), aos 2 anos ele foi morar com os pais e sete irmãos em São Miguel Paulista (SP). E foi em São Paulo que o tatuador Cigano deu os primeiros passos, cresceu e se firmou como tatuador. O início não foi nada fácil. Ele precisava conciliar o trabalho com a paixão pelo desenho. Hoje, com 20 anos de carreira, Cigano colhe os frutos do sucesso, mas com os dois pés no chão.

Conhecendo sua história, é difícil não admirar ainda mais a arte desse profissional que driblou as barreiras, deu a volta por cima e hoje está entre os melhores tatuadores de retrato do Brasil, além de ter seu trabalho reconhecido em outros países. Confira o nosso bate-papo com Cigano Aguillera.

 

Quais as maiores dificuldades que você encontrou quando começou a tatuar?
No começo, foi muito difícil, mas não me abalei. Trabalhava em uma farmácia das 10h às 23h, e na madrugada ficava aprendendo a tatuar em casa. Assimilei bem o meu tempo. Foram sete anos de preparação, até que, em 1998, pedi as contas do meu trabalho.

 

Alguma história curiosa para contar desse período?
Algumas. Quando visitava um estúdio de tatuagem, por exemplo, caso o tatuador percebesse que queria aprender ou só estava ali para espiar as técnicas, expulsava a gente do local. Ele mandava “ralar o peito” (risos) e nunca mais a gente voltava.

 

Como você descobriu que tinha talento para ser tatuador?
Nos anos 90, conheci um tatuador e resolvi fazer minha primeira tatuagem. Fiquei ali esperando ele preparar os materiais, agulhas amarradas com linha e coladas com Super Bonder (risos). Depois dessa experiência, me dei conta de que poderia tatuar também.

 

Quando e como foi a primeira tatuagem que você fez em alguém?
Um pouco tarde, tinha 25 anos, e foi a experiência mais louca que vivi! Um belo dia cheguei em casa, com todo o equipamento para tatuar, e meu irmão se prontificou a ser minha “cobaia”. Até hoje não sei o que tatuei nele (risos). Para você ter uma ideia, eu nem sabia que precisava colocar as borrachas em cima da haste. Saíam duas linhas da agulha em vez de uma (risos). Imagine a loucura!

 

Você acha importante que o aspirante a tatuador faça algum curso de desenho antes de começar a trabalhar de fato?
Eu acho, sim, que é muito importante ter, pelo menos, a noção de desenho para pegar em uma máquina de tatuagem, porque não é brincadeira. Hoje em dia, essa nova geração está muito ansiosa – o poste está mijando no cachorro (risos). Primeiro, estão querendo tatuar e depois vão aprender a desenhar. Desde criança, eu tenho noção de desenho.

 

Você fez algum curso de desenho para fazer as tatuagens?
Na farmácia onde trabalhava, eu tinha duas horas de descanso. Nesse tempo, saía correndo de moto para estudar numa escola de desenho, em Guarulhos, chamada Pró-Arte. Passei por esse processo, de conciliar estudo com trabalho, por dois anos. Em paralelo, eu ainda tatuava em casa. Hoje entendo que isso tudo foi uma preparação até aceitar que ser tatuador era o que eu queria como profissão. Em 1999, abri meu primeiro estúdio e, mesmo assim, me matriculei na escola Liceu de Artes e Ofícios para aprimorar a técnica de fotografia. Aprendizado que eu levei pra minha profissão.

 

Quando descobriu seu talento para o realismo?
Em 1997. Foi aí que descobri que tinha jeito para trabalhos de realismo e retrato. Gostava muito dos trabalhos do artista e tatuador Maurício Teodoro. Quando o conheci pessoalmente, fiz uma tatuagem com ele e foi uma experiência incrível, tanto profissional como pessoal. Ali, eu tive uma tradução de como deveria me comportar. Aprendi a ficar sempre com os pés no chão e a não me deixar ser levado pela vaidade ou glamour. E essa é minha opinião até hoje.  

 

Você é famoso por suas tatuagens realistas. Tem outras especialidades?
Além do realismo, também trabalho com tribal maori, pontilhismo e mandhi tattoo em black.           

 

Qual tipo de tatuagem você considera mais difícil de fazer?
Eu acho difícil fazer trabalhos que exijam uma composição com cenários, profundidade e distâncias de uma tattoo e outra ou tudo misturado, como vejo hoje os segmentos de tatuadores gringos específicos. Minha preferência é que fique tudo em harmonia, mesmo que tenha muito preto no plano de fundo, que, às vezes, me assusta.

 

A qualidade dos materiais utilizados influencia no resultado final?
Sim, influencia. O tatuador se sente mais seguro quando utiliza máquinas boas, além de agulhas e tintas de ótima qualidade.

 

O que você considera mais prazeroso na profissão e quais os pontos negativos?
O mais prazeroso é fazer um boa tattoo e ver a felicidade da pessoa que foi tatuada, porque aquilo é pra vida toda. O dinheiro é consequência de um bom trabalho. Já os pontos negativos estão ligados à nossa vida pessoal. Às vezes, o tatuador se doa tanto para o trabalho que muitos de nós, sem perceber, chegam a perder a própria vida, dando atenção a vaidades e não às pessoas que estão ao nosso lado. Então, acho que tem que haver um equilíbrio em tudo para não se perder.

 

Quais as principais características que um tatuador deve ter?
A principal característica, definitivamente, é a “assinatura” na maneira que vai desenvolver o seu trabalho. O ponto de partida é o decalque, onde também começa a “assinatura” do artista, passando por seus traços, pintura e finalização. Tem um monte de tatuador tentando fazer o mesmo, mas, para se sobressair, precisa ter o “algo a mais”, o diferencial. Eu acho que não existe artista ruim ou bom. Acredito que cada artista dá o seu melhor e acredita em seu trabalho, seja qual for o resultado.


Agora, deixe uma mensagem para quem curte seus trabalhos.
Quero agradecer a todos que gostam ou admiram os meus trabalhos, ao longo dessa jornada que não foi fácil. Queria agradecer também à Amazon e à Viperink pela oportunidade de fazer parte desse time e por nos privilegiar com materiais de excelente qualidade.

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