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Tatuagem ganha cada vez mais adeptos

O estigma social dos tatuados diminuiu bastante e, atualmente, é cada vez mais raro encontrar alguém que não tenha pelo menos um desenho no corpo, por menor que seja. A procura pelos estúdios só aumenta ao longo dos anos. Para se ter uma ideia dessa crescente popularidade, o mercado de tattoos foi turbinado em 20% em 2016 e em mais 24% em 2017, à revelia da grave crise que afetou outros setores.

Cada vez mais sólido, o segmento vem crescendo em torno de 20% ao ano, o que inclui os donos de estúdios no rol dos empreendedores de sucesso. Diversos fatores colaboram para que o número de adeptos dessa arte especial aumente de forma constante e significativa. Um dos principais é que o preconceito arrefeceu. De prática considerada maldita e restrita a guetos, a tatuagem ganhou espaços fashion, conquistou corações conservadores e tomou conta das ruas e dos ambientes mais sofisticados.

Tal façanha exigiu muito esforço dos pioneiros, em uma jornada repleta de superação e luta, mas também de alegria. Quase tão antiga quanto a história da humanidade, a tatuagem virou sinônimo de personalidade e, mais do que uma questão estética, é capaz de construir na pele uma narrativa de vida. Com tantos aspectos a valorizá-la, não é à toa que essa arte tenha conquistado uma visibilidade notável nos últimos anos. Quer saber mais? Fica com a gente!

 

Modinha recente? Que nada!

Muita gente acredita que a arte de marcar o corpo é uma modinha recente, e outros tantos garantem que também é passageira. Não caia nessa. A história da tatuagem mostra que ela anda de mãos dadas com a humanidade desde, pelo menos, 3.000 anos a.C. As tattoos são parte das tradições de egípcios, maoris, polinésios e muitos outros povos antigos.

A prática foi adquirindo diversos tipos de significado, de acordo com cada cultura. Podia representar desde símbolos de status e virilidade até servir como marcação de criminosos. Na história bem recente, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), prisioneiros de campos de concentração da Alemanha nazista tinham um número tatuado no antebraço. Até hoje, judeus sobreviventes carregam na pele o símbolo da barbárie. Mas a coisa toda começou bem antes. Vamos embarcar juntos nessa viagem no tempo.

 

A primeira tattoo ninguém esquece

Sabe quando foi feita? Acredite: os primeiros registros datam de 3.370 e 3.100 a.C. Pesquisadores chegaram até essa data graças à Múmia do Similaun, um fóssil humano encontrado nos Alpes, que tinha 61 tatuagens. Os lugares marcados coincidiam com pontos da acupuntura, o que pode identificar uma relação entre a arte e a prática terapêutica ancestral.

Outras múmias tatuadas foram encontradas em diversas partes do planeta, indicando que a prática da tatuagem surgiu em contextos históricos diferentes, adquirindo um significado único em cada cultura. Confira alguns.

 

Seis curiosidades históricas

1 – Antigo Egito

Por volta de 3.100 a.C., a prática era exclusivamente para as mulheres, e servia tanto para fins ritualísticos quanto para marcar aquelas que pertenciam ao harém da realeza. Já as grávidas tatuavam coxas, abdômen e peito, acreditando que isso facilitaria o parto.

 

2 – Roma

Entre os romanos, os primeiros desenhos marcados na pele eram usados para identificar escravos, criminosos e condenados. Com  as mudanças culturais, as tattoos começaram a ser usadas também pelos soldados – inicialmente, para evitar deserções, mas, depois, os guerreiros passaram a fazer suas próprias marcas, para representar coragem e vitórias nos campos de batalha.

 

3 – China

Por lá, a arte da tatuagem é milenar, mas, apesar disso, costumava ser vista como uma subcultura. Muito ligada à criminalidade, inicialmente era usada para marcar criminosos para o exílio. Em alguns grupos minoritários, as tattoos eram feitas em adolescentes de 13 a 14 anos, como um rito de passagem para a vida adulta. Mulheres recebiam desenhos nas mãos e braços, enquanto os homens tinham artes mais elaboradas de dragões, tigres e outros animais, para ressaltar músculos e demonstrar virilidade.

 

4 – Japão

A história da tatuagem no Japão passou por diversas fases. Tanto foi uma forma de adorno quanto um símbolo de pessoas estigmatizadas. Inicialmente, as tintas vinham de fontes naturais, e os desenhos iam desde dragões a samurais e gueixas. Posteriormente, o uso de tattoos foi atrelado à Yakusa, a máfia japonesa, gerando preconceitos que perduram até hoje.

 

5 – Nova Zelândia

Os maoris, povo nativo da Nova Zelândia, sempre adotaram a prática como parte importante de sua cultura. Para essa tribo, as tattoos eram muito mais do que um elemento estético – elas representavam narrativas sobre a personalidade, a ascendência e a história pessoal de cada indivíduo. Hoje, a tradição permanece viva na Nova Zelândia, e a tatuagem em estilo maori ganhou o mundo com o seu simbolismo e beleza.

 

6 – Polinésia

Em 1769, o navegador britânico James Cook desembarcou na Polinésia e observou os desenhos na pele dos nativos. Em seu diário, descreveu a prática:

“Ambos os sexos pintam seus corpos – tattow (tu tahou ou tatau, em outras versões), como chamam em seu idioma. Isso é feito colocando uma camada da cor preta sob a pele, de forma tal a ser indelével”.

Especula-se que, sem querer, Cook acabou fornecendo a origem do nome que batiza a arte até hoje.

 

E no Brasil, como é que foi?

Por aqui, a arte só chegou em 1959. O primeiro tatuador registrado no Brasil foi o dinamarquês Knud Harald Lucky Gegersen, conhecido como Lucky, que se instalou na zona boêmia de Santos, perto de bordéis. A localização só reforçou o estigma e a carga de preconceito que pesavam sobre a tatuagem àquela época.

Os frequentadores do estúdio de Lucky eram, em sua maioria, marinheiros. Há registros de que, na porta, estava escrito “It’s not a saylor if he hasn’t a tattoo” (“Não é um marinheiro se não tiver uma tatuagem”). O famoso tatuador morreu em 1983, aos 55 anos. Estima-se que ele pigmentou a pele de 45 mil pessoas. Atualmente, o Dia Nacional do Tatuador, em 20 de julho, é em sua homenagem, marcando a data em que Lucky chegou ao Brasil, iniciando a história da tatuagem por aqui.

 

Popularidade entre os jovens

Nas décadas de 1960 e 1970, as tattoos começaram a se popularizar entre os jovens, com um empurrãozinho providencial do movimento hippie e da contracultura. A partir daí, a arte de pigmentar a pele ganhou fôlego e espaço na sociedade. Avanços técnicos, como máquinas mais precisas, tintas de qualidade e procedimentos bem mais seguros, também são fatores fundamentais para a popularidade das tattoos.

Da mesma forma, as normas de vigilância e a regulamentação crescente dos estúdios fizeram com que a tatuagem deixasse de ser algo amador e estigmatizado, tornando-se uma prática social não apenas mais aceita, como também desejada. Ainda tem dúvida sobre isso? Confira mais algumas evidências.

 

O antes e o depois

  • Pecado, não: fé!

Não existe pecado do lado de baixo do Equador nem em canto nenhum do planeta. Se na Idade Média a tatuagem foi banida em toda a Europa, por ser considerada uma ‘profanação’ do corpo, à época considerado um templo do Espírito Santo, hoje ela pode ser usada até para marcar símbolos religiosos na pele. Mudança radical é isso!

 

  • Pode chegar, melhor idade

Embora a maior parte do público que procura por tattoos seja jovem (cerca de 48,2%, segundo pesquisa da revista SuperInteressante), o pessoal da melhor idade também tem ido aos estúdios em busca da primeira experiência. Entre os muitos motivos, destacam-se a vontade de satisfazer um desejo antigo e reprimido, homenagear filhos e netos e até fazer um gesto libertário.

 

  • Mulherada no poder

Ao final do século XIX, cerca de 90% dos marinheiros tinham algum tipo de tattoo no corpo, e a prática acabou se transformando em ‘indicativo da classe’. Com a sociedade cada vez mais aberta às formas de expressão alternativas, as tatuagens chegam aos corpos de pessoas das mais diversas idades e classes sociais. E se antes tatuar a pele era coisa de marinheiro, estivador, fuzileiro naval, ou seja, ‘papo de marmanjo’, agora elas estão mesmo empoderadas. No Brasil, do universo de pessoas tatuadas, quase 60% são mulheres.

 

  • Preconceito em queda

Ele ainda existe, mas está em queda acentuada. Antes do boom dos movimentos jovens, nos anos 1960, tatuados eram criminosos, vagabundos ou loucos. Este clima de terror acabou, mas, mesmo assim, em uma pesquisa realizada pelo Tattoo2me (https://tattoo2me.com), em março de 2018, 57,96% dos 5.390 entrevistados relataram ter sofrido algum tipo de preconceito.

 

✓  De marcas a marcos

Sim, a arte de pigmentar a pele já serviu para marcar indivíduos indesejáveis, identificar prisioneiros ou até determinar a ‘propriedade’ de serem humanos escravizados. Agora, as tattoos são marcos – de poesia, arte, identidade, sentimentos e ideologias. Uma evolução e tanto.

 

  • Sem muros

Tatuagem já foi popular nos presídios e, por isso, muito ligada à criminalidade. Este tempo acabou, para felicidade dos amantes das tattoos. Agora, a arte está cheia de moral nas ruas, nas manifestações e espaços culturais, no dia a dia da população. E a tendência é melhorar.

 

Gostou do que leu? É, os caminhos da tattoo até os dias de hoje são inspiradores. Guarde isso no coração e até o próximo post!

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