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Alexandre Dallier | “Foi aí que percebi que não haveria limites para fazer a minha arte.”

O entrevistado do mês de Junho é Alexandre Dallier. Conheça mais sobre a trajetória do artista, suas inspirações e seus projetos. Com histórias engraçadas e inspiradoras, Dallier nos contou como foi seu início no mundo da tatuagem. Confira a entrevista na íntegra abaixo!

1. Como foi seu início no meio da tatuagem?

Acredito que há coisas na vida que nos escolhem. Meu objetivo quando iniciei meus estudos para me aprimorar no desenho e na ilustração, em 1991, sempre foi dar aula e ganhar a vida vendendo quadros. Contudo, a tatuagem sempre me seduziu com sua beleza estética e criativa. Estes ingredientes eram complementos de tudo aquilo que faltava para meu desenvolvimento artístico. Paralelo a essa jornada, meus amigos sempre falavam que era na tatuagem que seria o meu futuro… e acabou sendo mesmo. Assim nasceu uma paixão, onde realmente pude explorar as técnicas de desenho para tatuagem. Foi aí que percebi que não haveria limites para fazer a minha arte.

2. Qual foi a primeira tattoo que você fez? E a primeira tattoo em você?

Em minha primeira tatuagem teria que ter sombras, então fiz um tribal onde iria treinar o traço, e um olho na composição para fazer as sombras. Criei um desenho e tive a chance de fazer em um amigo do meu irmão, felizmente tenho a amizade dele até hoje. Me saí muito bem, consegui fazer tudo e a parte do sombreado me fascinou. Não via a hora de fazer mais, o tempo todo tentava arrumar alguém, começando com os amigos, parentes, amigos dos parentes, vizinhos… foi um bom começo.

Minha primeira tatuagem em mim foi marcante. Após 19 anos do momento, lembro de detalhes até hoje. Minha primeira tattoo teria que ser uma homenagem e só podia ser ele, fiz um Jesus. Lembro muito mais da mão pesada do tatuador do que a dor da tattoo (risos).

3. Quais referências te inspiraram a se tornar o artista que é hoje?

Essas referências não vem da tatuagem, vem de uma época, a Renascença. Pintores como Igres, Canaletto, Rubens, Rafael, Rayes, foram minha inspiração. Depois, as revistas HEAVY METAL, revistas do Conan, e as ilustrações feitas para jogos de RPG foram a matéria prima para desenvolver meu trabalho na tatuagem.

4. Você chegou a estudar desenho? 

Fiz cursos de desenho no Oberg, Destes e Senac aqui no Rio de Janeiro. Depois fiz cursos de ilustração e pintura a óleo com José Geraldo Fajardo, Diana Santos e Renato Ferrari.

5. Você se tornou uma das maiores referências nacionais do estilo biomecânico. Como começou isso?

Meus desenhos Biomecânicos começaram nos anos 80. Eu assistia desenho de Transformers, Jaspion, Pirata do Espaço, Patrulha Estelar, Spectreman, Star Trek, Star Wars e claro, a série Cosmos de Carl Sagan. Eu tentava copiar os desenhos animados e gostava de montar LEGO como naves espaciais. Tudo relacionado ao espaço, ciência e ficção científica aguçaram minha imaginação e as possibilidades de vida alienígena.

6. Além disso, você tem um projeto no qual ajuda pessoas que têm cicatrizes, cobrindo com desenhos incríveis. Pode contar um pouco do projeto?

Essa é a maior responsabilidade em fazer o meu trabalho. Fazer com que a arte não só cubra uma cicatriz, mas devolva a esta pessoa a sua autoestima através da tatuagem. É algo que não tem preço. Nosso público nesse projeto quer que aquele momento ruim possa ser substituído por um momento bom, e buscam isso com a gente. Assim, fazemos algo que faça jus a todo nosso talento, estudo e empenho para fazer na pele algo surpreendente para esta pessoa, e é uma responsabilidade enorme. Toda nossa experiência trazida ao longo dos anos nos prepara para esta missão. É muito gratificante fazer nosso trabalho para estas pessoas.

7. Sobre suas tattoos, quantas você tem? Qual a favorita? Alguma com algum significado muito especial?

Apenas uma única gota de tinta já diz muito sobre as histórias contidas por trás da pele. Tenho 6 tattoos. Minha tattoo preferida é meu Jesus no braço esquerdo. Minha fé vai durar para sempre, então pensei em perpetuar isso na pele, daí vem o bordão – “Na pele só cabe a verdade.”

8. Conte algum caso interessante ou curioso que tenha ocorrido no estúdio onde você trabalha.

Certa vez um cliente entrou em contato já dizendo que o seu psiquiatra havia indicado. “Bom…” pensei, “…lá vem bomba”. O cliente disse que queria fazer algo que aumentasse sua autoestima, então pensei que não seria nada extravagante. Eu perguntei qual seria o tema da tatuagem, ele disse – eu quero fazer uma mega pênis. Eu achei que era uma brincadeira e ele falou sério: “Quero tatuar um pau grande porque o meu todo mundo acha graça.”. Perguntei: “Vamos lá, eu falei qual tamanho do seu sonho?”, e ele disse: “Ah, algo que começasse do lado do saco é vá até o joelho!”. Pensei comigo que o caso era grave mesmo. Então, pesquisamos vários tipos de pênis, ele queria uma coisa de cada um e eu fui lá montar o pênis dos deuses para ele… (risos). Tentei convencer ele de não fazer até o joelho porque quando estivesse de bermuda iria aparecer, mas ele me disse que a ideia era essa mesmo. Bom, concluímos o projeto, ele ficou muito satisfeito e me relatou algum tempo depois que as pessoas que viam achavam um absurdo ter aquilo e eu respondia “Deus me fez assim, e eu criei assim junto com você.”, ou seja, eu estava na história também). Isso ficou famoso e fui conhecido como o um Tatuador do Caralho (risos). Isso marcou a minha vida, felizmente não é mais relembrado.

9. Atualmente, qual seu estilo de tatuagem favorito?

Realismo preto e cinza.

10. Quais são os maiores desafios de ser um tatuador hoje em dia?

 Se reinventar.

11. Qual seu maior conselho para alguém que está começando no meio da tatuagem?

 Se você não tem paixão pela tatuagem, nem comece. 

12. Se pudesse tatuar qualquer famoso hoje, quem seria?

 Eu gostaria de tatuar o Bruce Dickinson, vocalista da banda Iron Maiden.

13. Por fim, conte-nos um pouco sobre os vídeos e lives que você produz. Como escolhe os conteúdos e o que te motiva?

Fui um dos primeiros youtubers do Brasil. Em 2006, criei meu canal no YouTube. Naquela época eu queria deixar registrado bons momentos com meus clientes através das tatuagens que fazíamos no estúdio, e foi mesmo um grande propósito ter começado assim.

Em 2009 postei meu primeiro workshop no canal, nesta época ninguém fazia isso. Muito tempo depois, vieram as lives pelo Instagram e pude também expandir, criando os vídeos de empreendedorismo p/ tatuadores. Até hoje é um sucesso, foi um marco para mim. Os temas que eu gosto de abordar são marketing e propaganda para nós, tatuadores. Esse nicho de conteúdo voltado aos tatuadores é escasso, e por isso produzo um conteúdo acessível de compreender e de fácil aplicação na prática diária, na evolução do artista. Consequentemente todos nós evoluímos e o mercado cresce com qualidade e com arte sofisticada. Com conhecimento, nossa responsabilidade é muito maior. Damos um ponto de vista para aqueles que não sabem enxergar.

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