WhatsApp Image 2020-06-12 at 15.10.24

Fil’G | Tatuagem, música e estilo.

O convidado do mês de Julho é Fil’G, tatuador do Náutica Tattoo Studio, que contou pra gente um pouco sobre sua carreira, seu estilo e o mundo da tatuagem. Fil, que tatua desde os 17, já tatuou o Neymar e se arrisca também no mundo da música! Você confere a entrevista na íntegra abaixo.

1. Quais foram as suas influências na tatuagem? Como você se sente hoje sendo uma referência para o trabalho de outros tatuadores?

As maiores influências que eu tive na tatuagem foram as pessoas que eu trabalhei junto, todas elas, desde o começo. Eu sempre admirei vários tatuadores. Tive admiração por vários e hoje sendo uma referência para o trabalho de outros tatuadores, para mim é incrível, um sonho realizado. Claro que é passo a passo, todo dia a gente está aprendendo, todo dia evoluindo, aprendendo com os outros. Eu aprendo muito todos os dias com os tatuadores de lá da Náutica Tattoo, sou grato demais por ter ótimos profissionais ao meu lado para me ajudar sempre. Sensacional… é uma sensação de que o seu dever está sendo cumprido com eficácia!

2. Como começou sua história com a tatuagem?

Eu comecei minha história na tatuagem em 2008, faz 12 anos que eu tatuo. Em 2008, comecei minha trajetória. Era meu aniversário de 17 anos e ganhei um kit de tatuagem do meu padrinho, da galeria do rock, da loja do monstro do Jack Tattoo. Foram os meus padrinhos que me deram de presente. Na verdade, meu padrinho comprou para ele, para ele começar a tatuar e ele viu que não conseguiu fazer nada ali. Ele sabia que eu desenhava já há um tempo, aí me deu o kit e uma história engraçada é que minha primeira cliente foi minha mãe. No mesmo dia que ganhei o kit minha mãe liberou um pedacinho de pele ali para eu testar (risos). Deu certo! E estou aí até hoje.

3. Conta pra gente a história por trás da sua primeira tattoo e com que idade foi feita.

A primeira tatuagem que eu fiz em outra pessoa, em um cliente, foi na minha mãe. Fiz uma rosa. E a primeira que eu fiz em mim foi uma caveira, com três rosas embaixo da barriga, porque tinha que ser escondido. Na época, meu pai não gostava. Mas acabou que eu fiz e, alguns dias depois, dormindo no sofá quando eu voltei da escola, ele acabou vendo (risos) só falou assim pra mim: “Espero que isso daí saia!”. E até hoje não saiu né? Pelo contrário… Se multiplicou! (risos).

4. O que ela representou para você?

A que eu fiz na minha mãe acho que na hora, sinceramente, não representou muita coisa, mas se não fosse minha mãe não estaria onde estou. Ela quem me deu minha primeira oportunidade de estar fazendo alguma coisa na pele para eu sentir como era. E com certeza na primeira tatuagem ali eu já sabia o que eu queria. A primeira tatuagem que fiz em mim, digo que não significou absolutamente, nada (risos). Eu simplesmente fiz a tatuagem porque não gostava de ser um tatuador de fazer tatuagem nos outros sem tatuagem nenhuma, porque comecei a tatuar os outros primeiro do que a fazer tatuagem em mim, então não me importava com nada. Só queria fazer alguma coisa para falar “Eu tatuo, mas também tenho tatuagem”.Você já participou de eventos internacionais de tatuagem?

5. Conte um pouco da sua experiência no exterior.

Não. Nunca participei de evento de tatuagem. Convenção nunca participei e nem nenhuma internacional, mas já tatuei em alguns países. Por conta da tatuagem, por ser um tatuador, eu visitei alguns países… só agradeço pelas oportunidades que a tatuagem me dá. Mas de eventos internacionais mesmo eu nunca participei.

6. Atualmente, quantas artes você tem no corpo? Há alguma mais especial?

Não faço ideia do número de tatuagens que tenho no corpo. Acredito que eu deva ter umas 100 tatuagens, ou 110… mais ou menos. Tenho praticamente o corpo inteiro, só não tenho as costas que pretendo muito fazer e acho que será a mais importante para mim. A que tem um significado melhor pra mim, a mais especial, é o rosto que eu tenho da minha vó, na perna direita. Se não fosse minha vó, minha família teria passado muito mais necessidade e perrengue do que passamos. E se não fosse ela, provavelmente, eu não teria a educação que eu tenho. Eu não teria me tornado a pessoa que eu sou. Então devo muito a ela, ela é muito especial para mim.

7. Você fez algum curso de desenho para fazer as tatuagens?

Não, nunca fiz curso de absolutamente nada. Tudo que eu faço na minha vida, graças a Deus, Deus me abençoou desta forma e me deu várias oportunidades de aprender a fazer as coisas. Precisava dar certo em alguma (risos), mas nunca fiz curso, nunca fiz cursos de desenho, nunca fiz curso de tatuagem, nunca fiz workshop com ninguém, nunca, nunca.

8. Você acha importante que o aspirante a tatuador faça algum curso de desenho antes de começar a trabalhar de fato?

Eu vou contar, por experiência própria, nunca tive curso de nada, sinceramente, não acho importante fazer um curso de desenho para ser tatuador, mas acho que depois que ele virar tatuador ele tem sim que estudar. Ele tem que manter uma evolução constante, porque eu não acho justo uma pessoa achar que é tatuador e fazer um monte de cagada nos outros, um monte de tatuagens mal feitas, achar que é isso, que ele ganhou o dinheiro dele e não importa com o cliente. Eu dou mais valor a um trabalho bem feito do que a um dinheiro ganho, com certeza; então, antes de ser tatuador fazer um curso não, mas eu acho que depois que você começou você tem que buscar constante evolução, constante aprendizado. Não digo em curso de desenho, mas sempre estar de olho em coisas, porque hoje a gente acabou aprendendo a ser um pouco mais autodidata. Tipo assim, autodidata que eu digo é você não precisar de ninguém te ensinando, você pode buscar conhecimento sozinho. Você procurando ali, por exemplo, eu mesmo busquei conhecimento sozinho. Quando comecei a tatuar eu via vídeos, claro, de pessoas que postavam aquilo, mas nada explicativo. Eu aprendi muito, devo muito ao Miami Ink. Eu pausava os vídeos para ver como eles usavam as agulhas, dava zoom e buscava. Eu acho que o pessoal perdeu um pouco disso, acha que é, está no mundo da tatuagem lá, é tatuador, é bom, é excelente e acaba não pensando no cliente e estaciona bastante.

9. Conte algum caso interessante ou curioso que tenha ocorrido no estúdio onde você trabalha.

Vou contar, acho que o caso mais estranho, o caso mais maluco que eu tive. Fui fazer uma tatuagem no pé de uma mulher e ela agendou por telefone naquela hora. Ela queria fazer uma tatuagem no pé, uma escrita no pé e eu falei que ela podia ir na loja sem problema que eu atenderia ela. Preparei todo meu material, normal, quando ela chegou eu olhei para o pé e vi que não estava de acordo. A cor do pé dela não estava de acordo com a o resto do corpo. Eu falei que estranho! Mas bom, tudo bem, sol, né? Eu trabalhava na praia e, provavelmente, ela poderia trabalhar na praia, num carrinho de praia, sei lá, em alguma coisa que pegasse bastante sol no pé, não sei, mas aí quando ela sentou na maca que eu fui passar o papel com álcool para dar uma limpada no pé dela parecia a propaganda do Vanish. Tira manchas (risos) ficou uma listra do lado parecendo símbolo da Nike, do lado do pé dela. Tive que mandar ela ir embora e lavar o pé, infelizmente, porque era sujeira mesmo, não era sol no pé não (risos).

Eu vou contar um caso também que me marcou muito, se eu não me engano dia 23 de dezembro de 2017, provavelmente, acho que foi esse dia. Não lembro se foi 2017 ou 2018, mas acho que foi de 2017. Eu tatuei um rapaz que tinha perdido a mãe e o filho fazia uma semana e um caso que aconteceu aqui em São Paulo. Eles estavam no parque. Ele, a esposa grávida, a mãe dele e avó dele. Estavam no parque caminhando e avó dele, já bem idosa, esbarrou em um cara, um senhor que estava passando no parque e eles discutiram e a mãe desse rapaz, que eu tatuei, foi falar que ela era uma idosa e que ele não precisava ficar nervoso desse jeito e ele tirou uma arma e puxou e deu um tiro na mãe dele e na mulher dele. E a mãe dele morreu na hora e a mulher dele quase morreu, teve que fazer muitas cirurgias no rosto e ela ficou cheia de cicatrizes e perdeu o bebê e uma semana depois ele foi tatuar o rosto da mãe dele. Então foi uma experiência meio chocante, acho que me marcou muito, foi muito emocionante na hora e acho que é uma tatuagem que eu jamais vou esquecer.

10. Como você define seu estilo?

Eu defino meu estilo como “Fil”. Eu acho que meu estilo é um pouco mais indefinido, apesar da galera chamar de realismo, chamar de só preto e cinza, acho que eu não me importo muito em dar uma misturada. Se eu precisar fazer traço eu vou fazer; se eu precisar fazer algum estilo diferente eu vou fazer, então eu busco sempre a minha intenção na tatuagem. Minha intenção é que a pessoa olhe meu trabalho e saiba que é meu, saiba que esse trabalho fui eu quem fiz, então eu acho que esse é o estilo pelo menos que eu tento passar e que eu busco sempre é o estilo “Fil”, estilo “Fil’G”, que é onde a pessoa olha e saiba que fui eu quem fiz, acho que é o mais importante para qualquer tatuador. Para você se destacar no meio de tantos excelentes profissionais, acho que você tem que sempre buscar o seu próprio estilo.

11. Quais são os maiores desafios da sua profissão?

O maior desafio da minha profissão eu acho que é buscar sempre qualidade todos os dias. Como a gente tem uma agenda muito vasta de muita procura graças a Deus e pessoas demoram muito para fazer uma tatuagem e muitas dessas vezes é um sonho realizado para pessoa, busco qualidade todos os dias, estar de bom humor todos os dias, com vontade todos os dias, com ideia todos os dias. Esse é o grande desafio, não só para mim, mas como para todos. É muito difícil você ter 100%, você se dar, se doar 100 % todos os dias, porque nem todos os dias você acorda bem. E você tem que estar sempre bem para o cliente, então eu acho que esse é o maior desafio e graças a Deus aí eu tenho conseguido, na maioria das vezes, fazer com que os clientes se sintam bem, se sintam realizados e poxa isso pra mim é maravilhoso.

12. Você é conhecido por ser tatuador de muitas celebridades, jogadores de futebol, entre outros. Como foi que começou isso?

Então isso começou muito, muito mesmo do nada, assim. Eu acho que a Náutica Tattoo com certeza me proporcionou muito isso. De uma grande visibilidade. O Adão sempre buscou esse meio assim, mas eu acho que o caso, que deu start mesmo pra mim, foi quando eu trabalhava na loja de Santos e quando eu estava indo pra loja até, mais ou menos na hora do almoço, estava dentro do carro, quando de repente meu telefone tocou e era Neymar, ele até falou: “E aí Fil, tudo bem?” eu falei “Tudo bem, quem é?” e ele disse “Neymar”, eu disse “Neymar? Que Neymar?” e ele respondeu “Você conhece outro Neymar? Tipo só tem eu de Neymar (risos)”, aí eu falei “Pô, que da hora! Que satisfação!”. Eu tatuei o Neymar, que foi minha primeira celebridade. Com certeza tem igual ao antes de Cristo e depois de Cristo, né? Tem antes Neymar e depois, pós Neymar, onde ele toca vira ouro e graças a Deus eu tive oportunidade de tatuá-lo e, com certeza, deu uma diferença muito grande na procura e no modo que as pessoas veem meu trabalho, sabe? Tipo você pode ter um trabalho bom e tal, mas se além de um trabalho bom você tem mídia ali eu acho que isso te joga muito, muito mais para cima, então tive essa oportunidade aí, graças a Deus.

13. Você costuma usar roupas bem chamativas, com o estilo do streetwear e dos Hypebeasts bem presente. Como você começou nesse mundo?

Cara eu, eu conto isso para todo mundo e não tenho vergonha nenhuma de contar. Quando eu era pivete, antes de ser tatuador, porque na verdade eu só trabalhei com tatuagem até hoje, eu já comecei na tatuagem, então antes disso as coisas eram bem difíceis. Minha família, era uma situação bem carente do financeiro, de tudo, eu nunca tive nada, de roupa, de tênis, de boné, eu sempre via meus pais se esforçando, minha mãe, principalmente, se esforçando, mas claro que as contas e a casa era sempre mais importante óbvio e então eu nunca tive nada, eu sempre tive roupa meio que doada, sabe? Tipo de primos, tênis de amigos, infelizmente, infelizmente não, felizmente, porque isso me fez. Me ajudou a me tornar a pessoa que eu sou e eu sempre falei que se eu ganhasse dinheiro um dia e eu ia me vestir da melhor forma, eu sempre ia gostar das coisas boas e sempre ia querer me vestir muito bem, porque já vivi com que hoje chamam de bullying. Mas eu não chamo de bullying! O pessoal tirava sarro de mim por causa da roupa que eu usava, mas diferente do que muita gente faz hoje que é chorar e processar (risos) naquela época não tinha isso, eu simplesmente usei isso de força pra me levantar e sempre me prometi que se eu ganhasse alguma coisa na vida um dia eu ia só do bom e do melhor, só que eu não sabia que ia ser tanto assim, tipo acho que eu dei uma exagerada (risos). Mas é um mundo que eu sou muito apaixonado, principalmente, por tênis! Sou muito apaixonado, sou colecionador, tenho tênis aí para o resto da minha vida, é um vício. É uma paixão, é um hobby e gosto muito e pretendo continuar se Deus quiser, vai dar tudo certo para que eu continuar nesse mundo e é isso aí (risos).

14. Você também é músico e chegou até a lançar um clipe com parceria com o canal KondZilla. Como você acha que isso repercutiu na sua carreira?

Sou músico, desde pequeno eu me lembro de gostar de música, de querer correr atrás, mas nunca fiz aula de nada, toco vários instrumentos e nunca fiz aula de nenhum. Sempre fui procurando aprender e sempre tive música na minha vida. Desde pivete tive banda, já tive empresários grandes, já tive gravadoras com a banda, fiz show no Brasil inteiro, dos meus 11 aos meus 16 anos, mais ou menos. A gente teve uma banda lá na praia que já estava bem famosa. Sobre o KondZilla acredito que a parceria mostrou para o pessoal que eu estava em outras artes (além da tatuagem). Mas, com certeza, eu quero lançar alguma coisa nova, uma coisa mais certa, estou um pouco sem tempo agora para música, toco só por hobby mesmo, em casa, toco meu violãozinho, toco minha bateria, mas quem sabe aí mais para frente eu não volte com alguma coisa. Tudo no seu tempo, e é isso.

Deixe sua Pergunta ou Comentário: