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Tatuador dos famosos, Adão Rosa fala sobre carreira e relação com Neymar

Foi um longo caminho até que o tatuador Adão Rosa atingisse o nível de fama atual. Conhecido pela clientela cheia de famosos, como Neymar, Bruna Marquezine, Daniel Alves, MC Guimê e outros tantos, ele começou a carreira nas areias de Praia Grande, fazendo tatuagem de henna para ganhar a vida e sustentar a família.

Sem medo de investir na profissão, Rosa chegou a vender a casa para conseguir decorar e abrir um estúdio dentro de um shopping. “O diretor do shopping me perguntou como eu iria pagar o aluguel fazendo tatuagem e eu respondi: ‘Me dê a oportunidade de mostrar o que posso fazer e onde posso chegar’”, lembra Rosa.

Este foi apenas o começo de uma carreira que se tornaria grandiosa. A guinada veio depois que ele recebeu um pedido de agendamento de um tal Ismael. A surpresa que teve naquele dia praticamente revolucionou a sua vida e alavancou sua trajetória profissional.

Enxergando sempre as oportunidades nos lugares certos, Adão Rosa fundou a Náutica Tattoo, que hoje conta com quatro unidades no Brasil – nas cidades de São Paulo, Santos e Praia Grande – e um estúdio, com bar e galeria, na Itália. Ele também lançou a plataforma Universidade Tattoo, onde participa de uma série de vídeos dando dicas sobre como abrir um negócio na área.

O blog Tudo Sobre Tatuagem conversou com Adão Rosa sobre sua história, desafios e a relação com o craque Neymar. Confira o resultado e divirta-se!

 

Como começou a sua relação com a tatoo? Você sempre gostou de desenhos?

Sempre gostei de tatuagem. Desde criança, andava com tatuagens adesivas coladas na pele. Aos 12 anos, fiz a minha primeira tatuagem com o mestre Uruca, que hoje faz parte da minha equipe.

 

Como você começou a trabalhar? O início foi difícil?

Quando meu filho nasceu, eu tinha apenas 18 anos de idade e trabalhava como ajudante em uma marcenaria. Nessa época, eu comecei a vender artesanato e cerveja na praia. Quando vi algumas pessoas fazendo tatuagem de henna, achei que não seria tão difícil colar um decalque na pele e seguir as linhas. Eu vi uma grande possibilidade de ter uma renda extra para sustentar minha família, mas nunca tive habilidades com desenhos ou pintura, e foi um grande desafio. Com o dinheiro que ganhei na tatuagem de henna, na areia de Praia Grande, comprei os equipamentos e iniciei a tatuagem definitiva em mim mesmo e depois nos amigos, na periferia de Praia Grande e na favela da Vila do Sapo. Logo, fiquei conhecido pela forte aplicação de cores e pelas minhas linhas firmes. Então, saí da periferia e montei meu primeiro estúdio de tatuagem dentro de um shopping, que se chamava Tatooadão.

Assim, eu montei uma equipe de tatuadores e iniciamos nossa caminhada. Logo, pensei em mudar o nome para Náutica Tattoo, fazendo uma homenagem aos nossos mares, que foi por onde chegou a tatuagem artística ao Brasil. No começo, não foi nada fácil para um menino de 18 anos, que não sabia desenhar e estava buscando uma profissão sem que tivesse habilidade nenhuma. Naquela época, os tatuadores não deixavam entrar nem acompanhantes e não tinha como obter informações. Comecei amarrando agulhas umas nas outras, pois tinha um filho e uma grande responsabilidade pela frente. Era quase impossível se dar bem na vida com a estrutura que tínhamos. Mas sempre acreditei no impossível e fui em busca daquilo que nem mesmo os meus amigos acreditavam que seria possível. Inclusive muitos, no começo, falavam que eu devia desistir, pois não tinha habilidades para tatuagem. Mas eu resolvi seguir em frente contra tudo e contra todos.

 

Quais foram as suas influências na tatuagem? Como você se sente hoje sendo uma referência para o trabalho de outros tatuadores?

Minhas influências na tatuagem foram o MR Uruca, que faz parte da nossa equipe há quase 20 anos, Mauricio Teodoro, Polska, Junior, Alvaro Teixeira de Santos… Até hoje, não caiu a ficha e ainda não parei para pensar que hoje sou influência pra outros tatuadores, pois não sou um artista, não desenho rostos no papel nem sei técnicas de pintura de papel, lápis ou tela. Eu apenas sou um tatuador e aprendi a tatuagem. Hoje, sei passar essa técnica de tatuar aos jovens.

 

Quantas tatuagens você tem em seu corpo? Tem alguma que é mais especial do que outras?

Bom, eu não sei quantas tatuagens tenho no corpo, mas creio que já tenho mais de 90% do corpo tatuado. Tenho muitas tatuagens especiais, como uma homenagem ao meu filho, uma homenagem aos meus falecidos pais, uma homenagem a minha esposa, com quem estou casado há 20 anos. Tenho ainda tatuagens de aprendizes e uma tatuagem feita pelo jogador Neymar – ele tatuou em mim a sua assinatura.

 

Você acha que o fato de muitas pessoas procurarem o seu estúdio por causa do seu nome é uma grande responsabilidade?

Sem dúvida nós temos um grande público. É uma grande responsabilidade com nosso nome, Náutica Tattoo. Os tatuadores da equipe têm todo o suporte para desenvolver um bom trabalho. Eu convido artistas de todo o Brasil e alguns do exterior para trabalhar em nossa equipe. Somos exigentes, e prezamos muito a saúde e o bem-estar de nossos clientes, garantindo sua satisfação com o trabalho.

 

O fato de você tatuar Neymar e outros famosos certamente mudou bastante a sua vida e a projeção do seu trabalho. Como foi lidar com essa mudança?

Desde quando abri o meu primeiro estúdio em shopping center já quebramos um grande tabu da tatuagem no Brasil. Antes, os estúdios eram sempre em locais mais reservados. Em um local de fácil acesso, como o shopping, sempre tatuei modelos famosos e jogadores de futebol que estavam passeando ou que já conheciam nosso trabalho e vinham nos procurar. Até que um dia, ligou um rapaz chamado Ismael e marcou uma tatuagem. Na hora marcada, entrou o Neymar, que disse: “E aí, Adão, vamos tatuar?” Eu fiquei em choque, pois ele já era muito famoso e poderia tatuar com qualquer tatuador do mundo, mas escolheu nosso estúdio. Eu pedi que avisassem ao cliente Ismael que o horário dele iria atrasar, mas ele contou que Ismael era o segurança dele e que tinha marcado com esse nome para não causar tumulto. Depois de Neymar, eu consegui atingir não somente jogadores do mundo inteiro, mas também cantores sertanejos, cantores de funk, atores, bailarinas e todo o público em geral. Certamente, minha vida mudou após tatuar o Neymar. Eu fiquei reconhecido mundialmente e as pessoas me param na rua para tirar foto. Ele tem um grande número de fãs e eu me sinto muito honrado de ter sido escolhido para fazer as suas primeiras tatuagens. Ao todo, eu fiz 27 tatuagens no jogador.

 

A Náutica Tattoo hoje é uma rede de estúdios, com quatro unidades no Brasil e uma na Europa. Como você consegue dividir o seu tempo entre os trabalhos de tatuador e o gerenciamento dos estúdios?

A Náutica Tattoo, hoje, se tornou uma grande família. Nós temos quatro unidades do Brasil e uma na Europa, mais especificamente em Roma, na Itália, onde iniciei meus trabalhos em 2006. Lá, ela já tem três anos e já é referência como estúdio de tatuagem e equipe de profissionais na Europa. A Náutica Tattoo Roma tem dois andares, elevador, restaurante, bar, terraço, duas salas de 160 m² cada. Fazemos workshop e exposição de arte de vários artistas europeus toda semana.

O nosso quartel-general fica em São Paulo, no Jardim Anália Franco. Ele também conta com restaurante, barbearia, deck, bar, tatuagem, piercing e acessórios. Hoje, a família Náutica Tattoo, que se iniciou na areia de Praia Grande fazendo tatuagem de henna, cresceu muito. Atualmente, temos 150 integrantes. É muito difícil cuidar de tudo, junto com minha esposa, e tatuar ao mesmo tempo. Por conta disso, hoje em dia, eu faço poucas tatuagens para poder cuidar de todos os estúdios e estar presente em todos, oferecendo o melhor serviço para nossos clientes.

 

Em sua trajetória, houve algum planejamento ou mudança que você considerou ousado?

Sim, em minha trajetória houve vários tipos de mudança. O meu sonho era ter apenas uma barraca na feirinha hippie da ‘cidade-oceano’ de Praia Grande, e fomos muito além disso. Fomos corajosos e ousados. Abrimos a loja em um shopping com um aluguel inicial de R$ 10 mil. Isso há 20 anos. O diretor do shopping me perguntou como eu iria pagar o aluguel fazendo tatuagem e eu respondi: “Me dê a oportunidade de mostrar o que posso fazer e onde posso chegar”.

Eles fizeram um contrato de seis meses de experiência no shopping e cobraram uma taxa de R$ 150 mil para entrar. Eu acreditei e nós vendemos a nossa única casa para reformar a loja. Sempre fomos ousados e sempre trabalhamos muito. Eu só comecei a folgar no domingo há uns cinco anos. Eu trabalhei de domingo a domingo, por 15 anos.

 

Qual tipo de tatuagem você considera mais difícil de fazer? E qual o seu estilo favorito?

O estilo de tatuagem que tenho maior dificuldade de fazer é o estilo Maori e o estilo de que mais gosto é preto e sombra.

 

Como você escolhe os materiais que vai usar no desenho? A qualidade desses materiais influencia o resultado final?

Eu escolho sempre o que há de melhor no mercado para nossos tatuadores usarem. Hoje em dia, usamos somente agulhas de cartucho em todas as nossas unidades. Certamente, o material influencia muito na tatuagem e na cicatrização dela.

 

O que você mais gosta na sua profissão?

O que eu mais gosto, em minha profissão, é fazer parte de momentos.  Nunca o cliente vai esquecer daquele momento, vai lembrar até do que conversamos naquela hora. Então, eu procuro tratar muito bem nossos clientes para que sempre tenham uma boa recordação do nosso trabalho.

 

Tem alguma tatuagem que você fez e o marcou?

Sim, tem muitas tatuagens que faço e ficam marcadas na memória. A maioria é feita por pais em homenagem ao filho que faleceu. Isso me marca muito.

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