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Fernando Shimizu | “Temos que nos superar a cada dia!”

O blog Tudo Sobre Tatuagem bateu um papo bacana com Fernando Shimizu sobre sua carreira, trajetória e o mercado da tatuagem. Confira a seguir!

1- Como começou sua história com a tatuagem?

Minha história na tatuagem começou quando eu tinha 17 anos de idade. Eu fazia tatuagem de canetinha nos meus amigos na escola e um dia eu cheguei em casa e meu pai pediu pra fazer um gavião do Corinthians, que na ocasião tinha ganhado um campeonato ou algo assim. E aí ele falou depois que eu fiz o desenho a caneta: “agora tatua de verdade”. E eu perguntei: “como assim tatua de verdade?”. E ele falou: “ah, por que você não tatua?”. Depois disso meu pai me deu um dinheiro e eu fui lá e comprei o material para tutar e tive minha primeira experiência na tatuagem. Era pra ser só brincadeira!

2- Quais foram as suas influências na tatuagem? Como você se sente hoje sendo uma referência para o trabalho de outros tatuadores?

Acho que, primeiramente, a minha influência artística. A paixão pela arte. Isso é o que me moveu para ir para a tatuagem. Fazer a arte na pele, no corpo. Mexer com o corpo humano é algo que me fascina, que me interessa muito. Alguns artistas de referência pra mim: Steve Butcher, Nikko Hurtado, Dave Paulo, Dimitriy Samohin. É essa galera aí, o pessoal que faz realismo que é o estilo que eu mais gosto, que mais me impressiona. Sobre ser referência é muito legal isso. Saber que o meu trabalho, toda minha história até aqui, resultou em algo e serve de inspiração pra outros. Isso não tem preço.

3- Você já participou de eventos internacionais de tatuagem? Conte um pouco da sua experiência no exterior.

Já participei da Convenção de Las Vegas, de Londres e de Nova Iorque. Eu morei em Nova Iorque de 2008 a 2012 e eu tatuava lá e foi uma das melhores épocas da minha vida, tanto profissional quanto pessoal. Viver naquela cidade que pra mim é a cidade maravilhosa, a capital do mundo mesmo. Depois fui pra Convenção de Londres e pra Las Vegas também e foi muito legal. Tatuar fora é muito legal, principalmente ser reconhecido né? Você estar ali e do seu lado ter grandes artistas no mesmo espaço que você. Deixa até eu aproveitar pra fazer uma crítica aqui que no Brasil você vai nas Convenções e vê stands monumentais né, faraônicos, dois andares com hostess e tal, mas a qualidade do trabalho não é compatível. Por que eu falei isso? Você vai fora do Brasil, em Convenções sérias, o espaço é igual pra todos e ali é arte pura. Você se sente bem, você se sente no meio daquele monte de leão, de fera, entendeu? Ali você exala; inspira conhecimento. Aqui não, aqui é só coisa errada. Fica aí minha crítica. Minha experiência de trabalhar fora me trouxe muitas coisas boas que eu colho até hoje.

4- Qual foi a sua primeira tatuagem e com que idade foi feita?

A minha primeira tatuagem foi debaixo do braço, eu tinha 17 anos. Eu fiz ela um pouquinho antes de começar a tatuar e eu a escondi do meu pai.

5- O que ela representou para você?

Na época significou libertação. Eu era aquele adolescente que era contra o sistema, contra tudo e aquilo foi um sinal de amadurecimento e de que eu me sentia mais homem, mais maduro. Na verdade, não era nada disso, eu era só um moleque né; mas eu em sentia assim (risos). Essa tatuagem significou o começo de tudo. Eu tenho ela aqui hoje. Me arrependo amargamente de tentar cobri-la. Se um dia eu me arrependi de algo, foi de ter tentado fazer a cobertura da minha primeira tatuagem. Hoje com a consciência de que tenho, a gente fica mais maduro e eu penso que eu tentei apagar o começo de tudo da minha carreira na história. Mas ainda tem uns pedacinhos que aparecem aqui e eu curto esse pouco que aparece, porque quando eu olho pra ela eu lembro de tudo que eu passei até aqui.

6- Atualmente, quantas artes você tem no corpo? Há alguma mais especial?

Eu tinha bastante, agora foram ficando poucas né? Porque vai ligando uma na outra e vira uma tatuagem só (risos). Algumas eu fiz só por questão estética mesmo. Eu não tenho preferência não. Na verdade, todas tem o seu valor igual naquela determinada situação. Se fiz por este motivo ou por aquele, cada uma teve o seu motivo e eu acho que todas são especiais e iguais pra mim.

7- Você fez algum curso de desenho para fazer as tatuagens?

Eu nunca tinha estudado arte na vida, mas a mais ou menos um ano eu comecei um curso de pintura clássica que posso dizer que mudou todo o meu conceito de arte em relação à técnica. Mudou todo o meu conceito técnico e isso me ajudou e está me ajudando a conseguir superar meus próprios limites e estar sempre em busca da superação.

8- Você acha importante que o aspirante a tatuador faça algum curso de desenho antes de começar a trabalhar de fato?

É uma excelente pergunta. É claro! É uma arte. Então no mínimo tem que ter um meio artístico. É possível sim tatuar sem saber desenhar, porem você vai ficar preso a um stencil, a uma linha que está demarcada ali. Se você não tiver um feeling do desenho, não saber desenhar, trabalhar com sombra e luz vai ficar difícil pra você fazer trabalhos mais completos como o realismo. Eu vejo muitos iniciantes que fazem o meu curso de realismo que não sabem nem desenhar e no realismo você tem que, no mínimo, saber desenhar muito pra conseguir fazer algo real. Eu sempre lanço o desafio de fazer um desenho no papel. O desenho no papel tem que ficar absurdamente bom pra na pele ficar bom. Então se o cara não sabe fazer no papel, não vai saber fazer na pele. Desenhar é um bom termômetro pra medir isso.

9- Como você define seu estilo?

Antes eu falava que era overall, que fazia de tudo. Ao longo da minha carreira eu tenho prêmios que eu ganhei em Convenção de tribal, old school, preto e branco, todas as categorias eu já ganhei prêmio, muita gente não sabe disso. Tem muito tempo, lá pros anos 2000 até 2010. Meu estilo agora é o realismo colorido, preto e branco, aquarela, microrrealismo (risos). Resumindo, eu faço tudo menos tribal e oriental.

10- Quais são os maiores desafios da sua profissão?

O maior desafio é me superar cada vez mais e quando eu achar que está bom eu poder ir além e tentar seguir minhas referências. É a superação. É se superar a cada dia e é o que eu falo a todo mundo aqui no meu estúdio: Temos que nos superar a cada dia!

11- Você também é modelo e DJ. Como você concilia todas essas atividades extras com a tatuagem?

Também sou encanador, eletricista (risos). Na verdade, eu era, porque faz tempo que que abri mão de modelar, mas foi uma época muito legal. Hoje ainda aparecem alguns convites e de vez em quando a gente faz alguma coisa, mas foi bem legal. E DJ eu comecei a tocar brincando e ai de uma brincadeira da época que eu tocava com vinil ainda, teve uma historia bem legal de como eu consegui meu primeiro toca-discos e até conseguir o segundo e assim evoluir e sem pretensão nenhuma de ser DJ e as coisas foram andando e quando eu vi eu estava discotecando nos melhores clubes do Brasil. Viajei o Brasil inteiro tocando. Tive um estúdio de música também, dentro do meu estúdio antigo de tatuagem onde eu produzia. Estudei produção. Hoje eu me dedico 90% à tatuagem, 5% à música e 5% a modelar também. A prioridade é a tatuagem, mas são coisas que eu curto muito fazer. São minhas paixões a música e a moda.

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