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Alexandre Veríssimo | “Como a gente coloca muito amor no que faz, isso desencadeia esses acontecimentos diferentes.”

Alexandre Veríssimo (instagram.com/verissimotattoo/), uma das referências do realismo no Brasil, coleciona prêmios e histórias incríveis ao longo de sua carreira. Em entrevista ao TudoSobreTatuagem compartilhou conselhos aos novos artistas do cenário e episódios emocionantes de sua jornada. Confira a entrevista na íntegra!

1. Antes de entrar no meio da tatuagem você já tinha contato com outras áreas artísticas?

Comecei desde pequeno, sempre trabalhei com desenho. Meu primeiro emprego como desenhista profissional foi aos 15 anos. Também fui instrutor de Desenho de Artes Gráficas e Arte Final no SENAI. Trabalhei também com diagramação gráfica no principal jornal de Brasília, o Correio Braziliense. Participei de algumas exposições, sempre ligado à pintura. Inclusive, tive um quadro premiado no Ministério da Marinha, no Salão Riachuelo, no aniversário de 500 anos do Brasil. Trabalhei também com aerografia, junto com Nelson Piquet, no autódromo. Enfim, sempre envolvido com as artes em suas diversas formas. 

2. Como foi entrar no meio da tattoo? Lembra da primeira tatuagem que fez? 

Então, a primeira tatuagem que eu fiz foi quando eu era criança. Acho que eu tinha aproximadamente uns 12 anos. Tinha um cara que fazia tatuagem em Brasília, na Asa Norte, em meados de 1983 ou 1984.  Fiquei maravilhado… Juntei um dinheirinho, comprei agulha, linha e tinta nanquim. Me tranquei no banheiro e fiz um dragãozinho na perna. Esse foi o primeiro contato que eu tive, e a primeira tatuagem que eu fiz… tudo em mim mesmo. 

3. Ao longo de sua carreira você conquistou muitos prêmios. Algum deles te marcou de forma especial? Compartilhe um pouco com a gente. 

Uma convenção ficou marcada na minha vida, acho que foi uma das primeiras. Foi o aniversário de 10 anos da convenção do LEDS. Na época era uma das principais convenções e ontem tive contato pela primeira vez com o pessoal do Grupo Amazon, o Isaac Tocinho e Fábio Zani. 

Esse prêmio foi muito importante pra mim pois eu estava participando da categoria de realismo, e nessa categoria estava um cara que me fez voltar a tatuar. Eu via o trabalho dele em revistas e ficava encantado. Já tinha um tempo que eu estava parado e isso me estimulou muito a voltar a tatuar. Isso me fez ver que o realismo era o que eu queria para minha vida, porque era muito interessante o que dava pra fazer. Mesmo com poucos recursos depois de ver os trabalhos do Mordenti,  tudo mudou.

Nessa convenção do LEDS? Eu disputei com ele na categoria realismo, e ganhei o primeiro lugar. Pra mim isso foi fantástico. Estar junto com uma pessoa que me fez voltar a tatuar e que eu admiro até hoje como pessoa e como profissional, além de todos os outros profissionais que estavam lá na época… Foi muito gratificante e inesquecível. 

4. Ainda hoje você estuda desenho?

Estudo. Até hoje… sou compulsivo com o estudo. Tenho 33 anos de profissão e a minha admiração pela arte é absurda, principalmente pela tatuagem. Desde meu primeiro contato com os 12 anos de idade, desde então fiquei apaixonado e decidi que era isso que eu queria fazer da minha vida. Sempre foi uma paixão e o desenho é parte dela.

Antigamente a gente não tinha muito acesso a coleções ou a internet, e tínhamos que fazer nosso álbum todo desenhado, pois o que vendia a tatuagem eram os desenhos exclusivos. Então a gente tinha que criar uma pasta com 100, 200 desenhos, todos eles exclusivos. O desenho começou a fazer parte da minha rotina nessa época e até hoje eu desenho e pratico bastante, pelo menos 2h por dia. Isso é sagrado pra mim, de domingo a domingo. E é uma paixão também. 

5. Sabemos do seu amor pelo Realismo, mas qual o seu estilo de tatuagem favorito? Para você mesmo e para tatuar. 

Pra mim, acredito que seja o realismo mesmo. Mais por conta do meu estilo de pintura mesmo, que é o hiper realista, surrealista, a minha paixão pelo realismo é de carteirinha. Mas eu procuro estudar todos os estilos, é difícil saber de todos, mas sempre procuro estudar de todos, e acabo no realismo novamente. Mas o que prefiro mesmo é tatuar, minha paixão é a tatuagem. Em todos os aspectos. Procuro ser o artista mais completo possível, pois eu acho que o tatuador, o artista, tem que fazer de tudo um pouco.

6. As vezes vemos em seu feed projetos maiores de fechamentos. Você prefere trabalhos assim? 

Na verdade, depois de muito tempo comecei a fazer fechamento. Eu gosto muito de fazer fotos macro, aquelas que tiram detalhes de plantas ou animais, mas o fechamento é uma coisa que encanta, sabe? Todo aquele ritual de tirar medidas e analisar os movimentos, a harmonia e a anatomia do local da tatuagem. Este ritual requer esse equilíbrio, essa junção de tudo. E é muito legal essa experiência, por que depois que você termina, você vê a satisfação nos olhos do cliente, e vê que aquele trabalho, aquela ilustração veste na anatomia do corpo da pessoa.

Isso me encanta bastante… acho que é uma dádiva você conseguir colocar uma ilustração e fazer com que ela se integre no corpo da pessoa, passando a ser uma coisa só. Então isso me fascina um pouco, acho muito legal, e ultimamente tem aparecido bastante fechamento assim. Sou muito grato a isso pois gosto muito de fazer. 

7. Agora sobre você e suas tattoos, quantas você tem? Qual a sua favorita? Alguma com algum significado muito especial?

Tenho 4 tatuagens. Fiz lá quando era moleque, depois tentei cobrir, e depois de novo. A última que eu fiz, que um amigo meu fez, uma cobertura de uma que eu tinha no braço, tem um significado especial e representa a minha ligação com Deus. Até mesmo como forma de agradecimento a este dom que ele me deu, e relacionada a ele também tem uma rosa, que tem um simbolismo muito forte com a minha irmã que perdi a um tempo atrás. Acho que essa é a mais importante. Em termos de simbolismo e tudo, tem um significado especial por isso, ela marca muito. É o sentimento que eu tenho por ela, e por esse motivo ela se torna especial. 

8. Compartilhe conosco algum caso interessante ou curioso que tenha acontecido ao longo de sua carreira. 

De vários, vou citar um que aconteceu mais recentemente. […] Um cliente me procurou para fazer uma tatuagem, uma homenagem para uma irmã que faleceu. E assim, pela história foi muito interessante. Ela já estava prevendo, sentindo umas coisas estranhas, tendo uns sonhos estranhos e veio a falecer em um acidente. Pouco tempo depois do enterro ele foi mexer na gaveta dele e achou uma carta e uma fita.

Nessa fita tinha a música Stairway to Heaven que era a favorita dela e na carta falando o que ela estava sentindo, que iria acontecer alguma coisa, e que deixava essa música para ele ouvir, pois ela estava se identificando muito nessa época. Após muitos anos ele resolveu fazer uma homenagem na pele, nas costas. Tem um dirigível, a escadaria do disco Stairway to Heaven. Como foi feita em várias sessões, ele foi contando a vida toda dele. E no final da última sessão, quando acabei a tatuagem, começou a tocar a música! Ficamos todos pasmos, foi um momento muito especial e mágico… ficamos em transe assim, foi muito bonito.

Nos emocionamos bastante. […] Como a gente coloca muito amor no que faz, isso de alguma forma desencadeia esses acontecimentos diferentes. Isso foi muito interessante para mim. 

9. Qual lição ou conselho você considera essencial para os novos artistas do cenário? 

Do que eu vejo hoje, um conselho que eu dou é: estudar. Não existe outro caminho a não ser estudar. Não pular as etapas da evolução, por que a gente vai estudando e logo fica agoniado já querendo tatuar muito, então acabamos pulando algumas etapas, e são etapas importantes que não devem ser puladas, que devem ser seguidas a risca e na sequência – isso já aconteceu comigo, falo por exemplo próprio – depois você precisa voltar lá atrás, naquele ponto que você parou e começar tudo de novo. Cada passo é importante para a evolução. Outro conselho importante para essas pessoas que estão começando é ter muito cuidado com o ego.

O ego é como um fantasma que assombra a nossa profissão hoje. Tem muitos artistas bons, que tiveram uma carreira meteórica e de repente caíram de uma vez, por conta do ego, pois não conseguiram controlar seu ego. O ego traz a sensação que a pessoa é a melhor do Brasil ou do mundo, e a pessoa parou de estudar e começou a regredir. E esse tempo que ficamos parados no tempo, perdemos muita coisa. A tatuagem vem crescendo de forma dinâmica e muito rápida, e se você parar o conhecimento te atropela, a evolução te atropela.

Então o conselho que eu pra essas pessoas é que sejam humildes, que aceitem conselhos, dicas, e saibam absorver isso com humildade. Ir devagar, fazer o que faz com amor, aos poucos, aumentando o grau de dificuldade de acordo com a evolução, ser humilde e seguir os conselhos dos mais velhos. 

10. Se pudesse tatuar qualquer famoso hoje, quem seria?

Hoje na mídia, gostaria de tatuar o Gusttavo Lima, Rogério Flausino, Falcão, Neymar, muitos artistas bacanas que seria muito legal de tatuar. Para gente como tatuador, é sempre legal pois dá uma divulgada, uma projetada na carreira.

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